terça-feira, 18 de outubro de 2011

20.000.000 de motocicletas – o futuro chega rápido e sobre duas rodas



A frota de motocicletas no Brasil não para de crescer. Se mantivermos o ritmo atual, em 2012 estaremos batendo a marca de 20 milhões de motos circulando pelo País.
Segundo dados da IMMA (International Motorcycle Manufacturers Association), a frota mundial de veículos motorizados de duas rodas cresceu 98% entre 2000 e 2008. A nossa frota de motos, no mesmo período, cresceu 224%. Saímos de pouco mais de 4 milhões para 13 milhões, segundo dados da Abraciclo.
Quais as conseqüências que este volume de motos pode ter no trânsito das grandes cidades, no meio ambiente, em resumo, em nossas vidas?
O que os órgãos competentes, as associações e os motociclistas estão fazendo com relação a esta previsão? O que vamos fazer a respeito?
A meu ver, as motocicletas e os motociclistas serão atropelados por mais leis absurdas, aumento de impostos, novas restrições de circulação e maior preconceito. As indústrias e associações ligadas às duas rodas — salvo uma ou outra marca que promovem algumas ações com ênfase em segurança — parecem se preocupar somente com o crescimento das vendas, com a instalação de novas montadoras no Brasil e com os constantes recordes de produção.
Não estamos preparados para “administrar” uma frota que já é enorme (mais de 16 milhões, contadas ao fim de 2010) e que aumenta a cada dia.
Acidentes – Segundo o complemento do estudo Mapa da Violência 2011 e divulgados pelo Instituto Sangari, em dez anos (de 1998 a 2008), o número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito no Brasil aumentou 754 %. Neste mesmo período, a frota cresceu apenas 368 %.

Mas não se impressione com estes números, eles são bem piores se levarmos em conta que as mortes só são imputadas aos acidentes se a vítima morre no local. Não entram nas estatísticas as mortes ocorridas durante a remoção ou no hospital.
Já os dados oficiais sobre o número de acidentes envolvendo motocicletas no país, divulgados pelo DENATRAN, são de 2008, onde um total de 200.499 acidentes com motocicletas resultaram em mortes ou ferimentos graves. Em 2008, a frota nacional era de 13.084.099, isso quer dizer que 1,53 % da frota esteve envolvida em acidentes. Seguindo esse cálculo, com uma frota de 20 milhões de motos, teremos mais de 306.000 acidentes.
Esse número de acidentes e mortes só dificulta a vida dos motociclistas que têm um valor de DPVAT (seguro obrigatório) de R$ 297,27, 176% a mais do que o dos automóveis. Estas estatísticas denigrem cada vez mais a imagem dos motociclistas.
Poluição – Depois de taxados como um dos maiores causadores de mortes no trânsito e pagar um DPVAT mais que o dobro dos carros, agora também somos responsáveis pelo aumento da poluição. Segundo a Cetesb, as motocicletas produzidas e vendidas em 2008 emitiram até quatro vezes mais poluentes que os automóveis.
Antes de culpar as motos, vale lembrar que o Promot (Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares) começou somente em 2003 a restringir a emissão de monóxido de carbono, 15 anos depois do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores).
Quando a norma PROMOT 3 deveria ter entrado em vigor em partir de 31 de dezembro 2008, foi adiada por mais um ano e ninguém lembrou do impacto que isso poderia ter nos níveis de emissão de poluentes. Já o PROMOT 4 está previsto para entrar em vigor em Janeiro de 2014… será que não heverá novo adiamento?
Temos de levar em conta que apesar de, em 2009, o Promot ter imposto restrições ainda mais severas de emissão de poluentes das motos, nossa frota neste ano tinha uma idade média de 4 anos e 11 meses. Ao todo, 62% da frota de motos em circulação têm até cinco anos de idade.
Segurança e Educação – Em 2000 tínhamos 37 habitantes por motocicleta. Já em 2010, essa relação passou a ser de 12 brasileiros para cada moto. Ótimo, isso significa o crescimento do público consumidor. Porém, a maioria dos motociclistas que entram no mercado são jovens, mal treinados e inexperientes.
Mas a culpa não é deles.
Qualquer pessoa que fez moto-escola, sabe que pilotar fazendo “8”, em primeira marcha, com motos velhas e mal reguladas não torna ninguém apto a andar de moto em nenhuma grande cidade. As únicas instruções que recebemos são, “Viseira fechada e ao parar coloque apenas o pé esquerdo no chão”.
Ninguém explica para os novos motociclistas como frear corretamente, a importância de um bom capacete, em que posição devemos andar para não ficar no canto cego dos veículos e que, em dias de chuva as faixas pintadas no chão escorregam feito sabão!.
E as leis? Bem, neste ponto chega a ser cômico. As últimas de que tive notícia foram a resolução 372, que determina que as motos fabricadas a partir de 2012 deverão ter placas de tamanho maior para facilitar a identificação (leia-se multas), o projeto de Lei 5651/2009 cujo objeto é a mudança dos artigos 54 e 55 do CTB, para obrigar o número da placa da motocicleta no capacete do condutor e garupa e do projeto de Lei 5251/2009 que acaba de ser desarquivado e prevê multa para o motociclista que fora  ou desmontado de sua motocicleta permanecer com o capacete em sua cabeça. Não precisa entender de leis para ver que nenhuma delas visa a segurança ou treinamento do motociclista.
Vias públicas, estradas e moto-faixas - Já que, infelizmente, o convívio pacífico entre os motoristas e motociclistas está cada vez mais difícil, a solução que encontraram foi segregar mais ainda as motocicletas a uma faixa exclusiva. Bem mais fácil do que promover uma campanha de respeito mútuo no trânsito. Então porque não continuar o projeto e levar as moto-faixas para outras avenidas? Mas não esquecam de avisar que as moto-faixas são das motos e não devem ser divididas com ciclistas e corredores de final de semana, como vem acontecendo.
Já fomos banidos e proibidos de circular na pista expressa da Marginal Tietê e na Av. 23 de Maio (SP–Capital) e agora só estamos esperando as próximas restrições.
Uma coisa que nunca vi, foi um levantamento sobre os motivos dos acidentes envolvendo motocicletas. Posso garantir que a imprudência de ambos os lados, sejam entre motociclistas e motoristas ou motociclistas e pedestres, pesam bastante nesta conta, mas o que dizer em relação à qualidade das ruas e estradas, tanto na pavimentação como na sinalização?
E sobre as estradas que passaram a cobrar pedágio das motos apesar de não estarem adequadas para tal (refiro-me aos guard-rail, que podem funcionar para os motoristas mas que, da forma com que estão montados, são letais para os motociclistas).
Estradas esburacadas, pavimentos irregulares, desníveis na pista, falta de acostamento, inexistência de sinalização, são tantos os fatores que contribuem para os acidentes, porem dificilmente são responsabilizados.
Apenas para frisar. Segundo pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), 69% da malha rodoviária do Brasil é péssima, ruim ou regular e somente 31%  dos trechos é considerado bom ou em ótimo estado (quase todos estão concentrados nos Estados de São Paulo e Paraná).
Fiscalização e Inspeção Veícular – Recentemente vimos na imprensa que a Polícia Rodoviária fez uma blitz com motociclistas em uma estrada paulista para que fosse checado se os capacetes utilizados tinham o selo do Inmetro. Com toda a certeza você também conhece alguém que foi parado para checar se sua moto tinha passado na inspeção veicular de emissão de gases, certo?

Agora, você alguma vez foi parado para analisarem a eficiência dos freios e suspensão, estado dos pneus e as condições gerais da moto, itens que refletem diretamente na segurança do motociclista e não apenas se a moto está poluindo muito ou pouco? Aposto que não.
Então, porque não tornar a inspeção veicular mais ampla e focada na segurança? Falo isso, pois a pouco tempo sairam na mídia duas noticias curiosas:
1 – Na capital paulista, mesmo sendo obrigatória, de dezembro de 2010 a março de 2011, 68.635 motoristas foram multados por não fazerem o Controlar.
No ano passado, as motos lideraram as estatísticas de irregularidade, quando metade da frota da capital não fez a inspeção.
2 – Uma avaliação feita entre os dias 20 e 24 de setembro do ano passado pela Abraciclo, no bolsão de estacionamento da Assembleia Legislativa (SP), onde os motociclistas interessados podiam fazer um moto check-up de 13 itens de sua motocicleta, levantou que em 4 mil motos, 49% delas tinham defeitos no freio traseiro, 42% no freio dianteiro, 42% apresentaram defeito na caixa de direção e 30% apresentaram falhas no pneu traseiro, luz de freio e lanterna.
Não precisa ter uma bola de cristal ou ser vidente. Se nada for feito, o aumento da frota de motocicletas trará conseqüências piores do que a de nossa realidade citada acima.
O futuro que nos espera é de motocicletas velhas, altamente poluentes, em péssimo estado de conservação, pilotadas por jovens mal treinados, em ruas esburacadas e rodovias mal cuidadas. Consequentemente, é evidente que haverá um aumento absurdo no número de acidentes e mortes. Mas podemos alterar esse futuro hoje.
Soluções - No caso de acidentes e mortes, podemos defender as leis que diminuem os tributos sobre os equipamentos de segurança dos motociclistas e campanhas de esclarecimento e educação visando o declínio de acidentes.
Renovação da frota. Mais segurança e menos poluição
Quanto a emissão de poluentes, podemos baixar os índices com um programa de renovação progressiva da frota, tirando de circulação as motos antigas e criando subsídios (como a dos taxistas) para que os motoboys possam adquirir um modelo novo, menos poluente e com toda certeza mais seguro (menos acidentes).
Na parte de segurança e educação, o simples fato de fazer respeitar as leis já existentes seria um enorme passo.
A criação de um currículo nas moto-escolas que preparem adequadamente um motociclista para nosso trânsito, além de programas de treinamento e segurança para motociclistas é necessário e urgente.
Nas cidades, aumentar o número de moto-faixas direcionando o trânsito de motos para estas vias e nas estradas obrigar as concessionárias a adequar os guard-rails aos poucos. Realizar uma inspeção veicular mais abrangente, visando tirar de circulação os veículos sem condição de circulação e que com toda certeza estarão, cedo ou tarde, envolvidos em acidentes devido ao seu estado geral precário.
Algo tem de ser feito, pois o futuro chega rápido e os maiores prejudicados serão os motociclistas.

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