segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acidente com moto pesa no cofre público


Cidade


Carlos Vianna junior


Ter uma moto pode ser uma maneira de agilizar a vida, mas é também um risco tanto para quem a conduz como para o estado. O risco está no fato do número de acidentes com motos está aumentando muito mais rápido que o número de acidentes com outros veículos, gerando altos custos para os cofres estatais, já que os motoqueiros acidentados levam três vezes mais dias internados do que outras vítimas de acidentes de trânsito. Em 2010, foram internadas, na rede do SUS, em Salvador, 453 pessoas envolvidas em acidentes com este tipo de transporte, sendo a primeira causa de internamento por acidentes de trânsito.

Os dados, que colocam os acidentes com motos como um grave problema de saúde pública, são do Sistema de Informação em Saúde (SIS), da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Eles mostram também que a situação é ainda pior no interior do estado.

Gilson Andrade Fontes, depois de quase um ano em processo de recuperação do acidente que sofreu com sua moto, não tem a mínima ideia do custo de seu infortúnio para o estado. “Sei que para mim isso tudo saiu e ainda sai muito caro, mas imagino que o governo não gastou pouco comigo”, pondera.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um paciente vítima de acidente de moto custa, em média, R$ 152 mil aos cofres públicos, só na rede hospitalar. Já o custo social de cada um desses pacientes é de, em média, R$ 952 mil aos cofres públicos, o que envolve atendimento pré-hospitalar, hospital, licença, aposentadoria, entre outros.

Segundo pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), uma diária em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode chegar facilmente a R$ 2 mil, somente com uso de medicamentos. Segundo o estudo, o custo de antibióticos para tratar infecções ósseas, principalmente em casos de fraturas expostas, pode chegar a R$ 500,00 a dose. Aplicados de seis em seis horas, como é previsto, seu custo diário chegaria a R$ 2 mil.

Gilson Andrade está certo, de acordo com os dados acima, seu caso não foi nada barato para o estado. Para obter os primeiros socorros e tentar se salvar de um acidente que lhe quebrou uma das pernas em cinco lugares, a outra em dois, sem contar braços, bacia e tíbias, Gilson teve que ficar em uma UTI por dez dias. Ou seja, só nesse procedimento, o estado pode ter gasto 20 mil reais.

Nesse valor, no entanto, não estão incluídas as nove cirurgias pelas quais Gilson Andrade teve que passar para remendar seus ossos com platina, nem os vinte dias a mais em que ficou internado, nem o tratamento com fisioterapia no Hospital Sara Kubitschek. Além disso, Gilson é um trabalhador, uma força de trabalho que está parada por um ano e que, mesmo assim, deverá fazer uso de novos tratamentos e até cirurgias para amenizar as sequelas.

“Perdi cerca de 60% da movimentação no joelho esquerdo, que foi reconstituído. Além disso, o médico disse que esta foi uma solução temporária, e que, devido às dores, em pouco tempo terei que trocar a rótula, por uma prótese”, conta. Gilson, que já consegue andar com ajuda de muletas, espera não passar mais esta conta para o estado. “Espero estar trabalhando e com plano de saúde para não precisar do SUS”, disse.

Aumento da frota e imprudência

O aumento constante da quantidade de motos no estado é dado como uma das causas que fazem dos acidentes com este tipo de veículo um problema de saúde pública. A frota, entre 2000 e 2010, cresceu 1.234%, cerca de 53 mil unidades por ano, na Bahia.  O sanitarista Francisco Santana, do Observatório Estadual das Violências e Acidentes, aponta que o número de acidentes com motos vem crescendo na mesma proporção do crescimento da frota.

Ana Cristina Regueiro, diretora da Escola Pública de Trânsito, do Detran, acredita que a situação tem piorado com a facilidade de se comprar as motos, mas para ela o problema está também na qualidade dos condutores. “E não é por falta de informação, elas são passadas para os condutores, seja nos cursos de formação para tirar a carteira, que duram 45 horas, seja através das campanhas. O que falta mesmo é consciência que se tem de mudar o comportamento, individualmente, não só no discurso, mas na prática”, argumenta.

O argumento de Ana Cristina pode ser apoiado pelo que demonstra o relatório do SIS sobre acidentes de trânsito, na Bahia, envolvendo motociclistas. Contendo dados acumulados entre 1996 e 2010, o documento demonstra que o aumento de acidentes é mais acentuado no interior do estado, sobretudo nos municípios com população menor que cinquenta mil habitantes. “São localidades onde não há fiscalização suficiente para retirar das ruas os condutores menos preparados”, explica o sanitarista Francisco Santana.
Ações - Em Salvador, tanto o trabalho de fiscalização como o de educação têm sido intensificados. A Polícia Militar tem feito um trabalho que, indiretamente, vem se tornado um fator de diminuição de acidentes de motos, na capital baiana. Suas abordagens a veículos, com o intuito de inibir a ocorrência de crimes, consequentemente, têm retirado das ruas da cidade motoqueiros irregulares, que são potenciais causadores de acidentes.

No período entre 21 de julho a 26 de outubro, 9.016 motociclistas foram abordadas, tendo como resultado o recolhimento de 228 carteiras de habilitação e a remoção de 1.948 motocicletas, para o já abarrotado pátio do Detran.

A Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador), segundo sua assessoria, vem orientando os motoqueiros através da Operação Trânsito Mais Gentil, que consiste em abordagens educativas aos condutores de veículos. Além disso, são realizadas palestras em escolas, comunidades e associações classistas, sobre como evitar acidentes.

O trabalho de educação é intensificado pelo Detran, através de suas Blitzes Educativas, nas quais os motoqueiros são abordados em sinaleiras, em estacionamentos, em eventos e festas. “Lembramos para eles, os procedimentos que geram segurança no trânsito e lhes damos panfletos informativos para que eles leiam e reflitam”, conta Ana Cristina Regueiro.

Além disso, a Escola Publica de Trânsito, segundo Ana Cristina Regueiro, tem feito um trabalho de formação de multiplicadores educativos que, além das escolas (públicas e particulares) da capital, está alcançando o interior. “Em 2010 atingimos 21 municípios, onde formamos turmas de 40 pessoas. São sempre um professor e um coordenador de cada escola que participa de um curso de 40 horas. Eles vão desenvolver projetos de educação anual nas escolas e o Detran faz acompanhamento”, explica.

Apesar de ser no interior do estado onde o número de acidentes de motos vem crescendo mais rápido, nenhum município conta com  escolas públicas de trânsito, do Detran. “Existe a necessidade, e acredito que logo será notada”, opina Ana Cristina Regueiro.
Publicada: 31/10/2011 07:03| Atualizada: 31/10/2011 07:01

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