De acordo com uma autoridade do governo interino, o ex-líder líbio e seu filho serão enterrados amanhã em local secreto no deserto
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Foto: Reuters
Líbios vão a local onde está corpo de Muamar Kadafi em um frigorífico de Misrata
O cadáver de Kadafi já dava sinais de decomposição depois de quatro dias exposto sobre um colchão, enquanto facções locais decidiam como sepultá-lo. O escurecido corpo de Kadafi e os cadáveres de Mutassim e do ex-comandante do Exército estão num mercado na cidade de Misrata, para onde foram levados depois de sua captura e morte, na quinta-feira, em Sirte, cidade-natal do ex-líder líbio.
Mas o frigorífico não dava conta do constante entra e sai de pessoas, numa sombria paródia dos velórios solenes geralmente reservados a líderes falecidos. Os responsáveis pela guarda colocaram sacos plásticos sob os corpos por causa do vazamento de fluidos, e entregavam máscaras cirúrgicas aos visitantes para que se protegessem do mau cheiro.
Kadafi e seu filho foram capturados vivos - conforme mostram imagens amplamente divulgadas -, mas morreram em seguida, em circunstâncias não esclarecidas. Poucos líbios pareciam preocupados em saber como eles foram mortos ou por que estavam passando tanto tempo expostos, contrariando a tradição islâmica que prevê o sepultamento no prazo de um dia.
"Deus fez do faraó um exemplo para os outros", afirmou Salem Shaka, que visitou os corpos na segunda-feira. "Se ele tivesse sido um homem bom, já o teríamos sepultado. Mas ele próprio escolheu o seu destino."
Outro homem, que contou ter viajado 400 km para ver os corpos, disse: "Vim aqui ter certeza com os meus olhos (...). Todos os líbios precisam vê-lo."
O assassinato de ditadores derrubados não é novidade. Na Europa, o mesmo aconteceu com o romeno Nicolae Ceausescu, em 1989, e com o italiano Benito Mussolini - criador da Líbia moderna, como colônia italiana -, em 1945.
Mas alguns aliados estrangeiros do novo regime líbio manifestam desconforto com a maneira como Kadafi foi tratado após ser capturado e depois de morto, e temem que os novos líderes do país não estejam cumprindo sua promessa de respeitar os direitos humanos.
Uma autoridade do CNT afirmou que o corpo de Kadafi será enterrado na terça-feira em uma cerimônia que contará com a presença de clérigos muçulmanos, em um local secreto no deserto líbio. "Ele será enterrado amanhã em uma cerimônia simples com a participação de xeiques no enterro. Será em um lugar desconhecido no deserto", disse a autoridade à Reuters por telefone.
Ele disse que a decomposição do corpo chegou a um ponto que "não pode durar mais tempo". "Nenhum acordo foi atingido com sua tribo para levá-lo", ele acrescentou. Questionado se o filho de Kadafi, Mutassim, seria enterrado na mesma cerimônia, a autoridade disse apenas que "sim".
Uma equipe de TV da Reuters disse que a câmara frigorífica onde estavam os corpos estava vazia. Uma fonte líbia em Misrata confirmou à Reuters que eles foram removidos, mas não quis dizer onde estavam ou se já seriam enterrados.
Nesta segunda-feira, o CNT anunciou a criação de uma comissão para investigar a morte de Kadafi. Organizações como a ONU e líderes de vários países pediram explicações sobre como o coronel foi morto, após relatos contraditórios.
“Em resposta aos apelos internacionais, começamos a instaurar uma comissão encarregada de investigar as controversas circunstâncias da morte de Muamar Kadafi", afirmou o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdel Jalil.
O governo interino da Líbia disse inicialmente que Kadafi tinha morrido em uma troca de tiros entre seus partidários e as forças do CNT em Sirte. Mas, com as evidências divulgadas até agora, observadores não descartam a possibilidade de que ele tenha sido sumariamente executado.
Nesta segunda-feira, Jalil sugeriu que o coronel pode ter sido morto por seus próprios homens. “Vamos pensar quem teria o interesse de que Kadafi não fosse julgado. Os líbios queriam julgá-lo pelas execuções, prisões e corrupção”, afirmou. “Os líbios queriam Kadafi preso, queriam humilhá-lo o quanto fosse possível. Quem queria ele morto eram aqueles fiéis a ele, ou que tinham trabalhado para ele. A morte de Kadafi os beneficiaria.”
Abdel Jalil também anunciou a instauração de um governo de transição "dentro de duas semanas". "Começamos as discussões (sobre a formação de um governo) e esta questão não levará um mês, mas estará encerrada dentro de duas semanas", indicou.
No domingo, o governo interino declarou a libertação formal do país em uma cerimônia que reuniu milhares em Benghazi, berço da revolta contra o antigo regime.
Com AP, EFE, BBC e Reuters
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