Vai um cafezinho aí?
Imagino
o que você, médico (a), engenheiro (a), professor (a) ou arquiteto (a)
do serviço público, por concurso, sente ao saber que, no Tribunal de
Contas do Distrito Federal (TCDF), funcionários com o quarto ano do
ensino fundamental podem receber até R$ 12.820,51 e os de nível médio,
até R$ 19.115,36.
Não
sabia? Pois fique sabendo. A mamata é resultado de uma lei local
promulgada em 2 de janeiro, pela qual mais da metade dos servidores do
tribunal pode ganhar igual aos ministros do Supremo e à presidente da
República.
Mas
o pior é o que devem sentir os aposentados do INSS. Ou os que pagam
impostos -e, portanto, os salários do serviço público. Ou, pior ainda, a
grande maioria de brasileiros que não têm alternativa senão recorrer a
hospitais e escolas públicas, onde jogam sua vida e o destino dos seus
filhos nas mãos de profissionais muitas vezes esfolados por baixas
remunerações, altas responsabilidades e estímulo zero.
Em
vez de atender pacientes, que tal servir cafezinho? Com todo o respeito
a copeiras, ascensoristas, porteiros e motoristas, não parece justo que
eles, com o ensino fundamental, ganhem duas, três, quatro vezes mais do
que quem ralou no ensino médio, no ensino superior, às vezes até com
mestrado ou doutorado, e também trabalha no Executivo, no Legislativo ou
no Judiciário.
Alguma
coisa está errada, em meio a tanta coisa que continua tão errada. Mas,
nesse caso, com uma particularidade que oscila entre ironia e deboche:
os Tribunais de Contas, como o próprio nome já diz, existem exatamente
para zelar pelo bom uso do dinheiro público e apontar desperdícios e
superfaturamentos.
Se
um Tribunal de Contas é o primeiro a dar mau exemplo, a garantir
desperdício e a permitir superfaturamento de salários pagos pelo
público, a quem se queixar?
'Ao papa!', dirão os empanturrados de ira e descrença. Mas nem isso. O papa renunciou, lembra?
(* Folha de S.Paulo)
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