domingo, 13 de dezembro de 2015

Mortes no Burundi reacendem receios de nova violência étnica

Mortes no Burundi reacendem receios de nova violência étnica

Corpos deixados nas ruas de Bujumbura eram sobretudo de jovens, tinham marcas de balas e alguns tinham as mãos atadas atrás das costas
Confrontos começaram após golpe falhado de maio e têm seguido linhas políticas, mas tensão entre hutus e tutsis está latente
Na maioria jovens, baleados e alguns com as mãos atadas atrás das costas. Foi assim que os habitantes de Bujumbura encontraram ontem de manhã dezenas de corpos nas ruas da capital do Burundi. Segundo o exército, a violência de sexta-feira - a pior desde uma tentativa falhada de golpe de Estado em maio - fez pelo menos 90 mortos e, se até agora os confrontos se têm regido por linhas políticas, a comunidade internacional receia que possa reabrir as velhas divisões étnicas entre a maioria hutu e a minoria tutsi.
O porta-voz do exército do Burundi, Gaspard Baratuza, explicou à Reuters que depois de grupos de jovens terem atacado três posições militares na capital, envolvendo-se em confrontos com soldados, o balanço da violência de sexta-feira foi de 79 atacantes mortos e 45 feridos. Do lado das forças de segurança, morreram quatro militares e quatro agentes da polícias. Um relato que contrasta com o de várias testemunhas que garantem que a polícia realizou buscas casa a casa, tendo depois matado os seus ocupantes.
Ontem as ruas de Bujumbura estavam calmas, depois de o exército ter confiscado armas e munições. A violência no Burundi começou em abril, depois de o presidente Pierre Nkurunziza anunciar a intenção de se candidatar a um terceiro mandato. Autorizado a tal em maio pelo Tribunal Constitucional - cujos juízes terão sido intimidados, garante a oposição -, Nkurunziza escapou a uma tentativa de golpe e acabou por vencer as eleições de julho.
Segundo as Nações Unidas, já foram mortos pelo menos 240 pessoas desde abril e mais de 200 mil fugiram para os países vizinhos. A violência dos últimos meses faz temer um regresso da tensão étnica entre hutus e tutsis num dos países mais pobres do mundo (mas que há duas décadas conseguiu evitar o genocídio do vizinho Ruanda).
O Burundi saiu em 2005 de 12 anos de guerra civil durante a qual grupos rebeldes hutus, entre eles um liderado pelo agora presidente Nkurunziza, lutaram contra o exército dominado pelos tutsis. O conflito estalou em 1993 com a morte do chefe do Estado Melchior Ndadaye, da maioria hutu.
Sanções
Para a próxima quinta-feira está prevista uma sessão especial do Conselho dos Direitos Humanos da ONU para discutir a situação no Burundi. A reunião foi pedida pelos EUA e apoiada por 18 dos membros do Conselho, mais do que o mínimo de um terço necessário. Mas apenas um país africano apoiou o pedido: o Gana.
Na sequência do golpe falhado de maio, EUA e União Europeia impuseram sanções contra quatro cidadãos do Burundi, incluindo dois antigos militares envolvidos na tentativa de derrube do presidente. "Ficamos felizes com as sanções, mas já vêm um pouco tarde, depois de todas as mortes que já houve no Burundi", afirmou à BBC Pierre Claver Mbonimpa, um ativista dos direitos humanos que se encontra a receber tratamento médico em Bruxelas depois de em agosto ter ficado gravemente ferido ao ser atingido por uma bala nas cordas vocais e outra na coluna.

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