domingo, 1 de abril de 2012

Mineração: até 2015, setor deve abrir 150 mil postos

Técnicos em mineração, geólogos e engenheiros de minas são os profissionais mais procurados no mercado
Desde 2005, o produto que o Brasil mais exporta é o minério de ferro. Os números do mercado são todos da ordem do bilhão: nos dois primeiros meses deste ano, o país exportou US$ 4 bilhões; até 2015, devem ser investidos no setor US$ 68,5 bilhões; a Vale foi a empresa latino-americana que teve o maior lucro em 2011 (US$ 20 bilhões). E por aí vai.
Para saciar a sede por minério, principalmente da China, empresas brasileiras precisam contratar mais profissionais. A Rhio”s, consultoria de RH especializada nesse campo, estima que o setor deve abrir 150 mil postos até 2015.
Só em 2012, a Vale planeja preencher 6.600 novas vagas. De acordo com Carla Gama, diretora de educação da mineradora, o plano de contratações para os próximos anos “não será um desafio menor”.
Mesmo com a flutuação recente do preço do minério de ferro, a demanda por trabalhadores já é maior do que a oferta. Elmer Salomão, dono da consultoria Geos, que faz estudos sobre o segmento, resume: “Falta gente com experiência no mercado. Sem experiência falta também”.
Treinamento
Os profissionais mais procurados são geólogos, engenheiros de minas e técnicos. Eles exercem atividades como estudar os minérios, trabalhar na extração e apoiar as operações (veja mais ao lado).
Segundo Denise Retamal, diretora-executiva da Rhio”s, além da carência de profissionais, os que existem precisam passar por cursos de especialização nas empresas.
Foi o que aconteceu com Pedro Crispim, 24. Logo após se formar em engenharia de minas pela Universidade Federal de Ouro Preto (MG), ele fez um curso de três meses na Vale, onde estudou o minério “da descoberta até a venda do produto”.
Todos os 40 alunos que participaram desse curso, em 2011, foram contratados. Crispim hoje trabalha com operação de minas em Itabira (a 106 km de Belo Horizonte).
“Além de treinar, as empresas estão buscando profissionais em outros países, principalmente nos que têm indústria de extração, como o Chile”, diz Retamal.
Salário de iniciante é de R$ 7.000
Apesar da boa fase, setor pode passar por ciclos de altos e baixos. Como todo produto que se torna escasso, a mão de obra de profissionais da área de mineração subiu de preço.
Segundo informações de consultorias especializadas no setor de mineração, o salário médio de um geólogo júnior, formado há dois anos, é de aproximadamente R$ 7.000. Um pleno (com cinco anos de mercado) recebe cerca de R$ 12 mil.
Os números para engenheiros de minas também funcionam como atrativo. Um técnico na área ganha, em média, R$ 4.000.
Ao graduar-se, o geólogo Rafael Beruski, 24, pôde escolher uma entre três empresas interessadas nele.
Depois de analisar remuneração e benefícios de cada uma das companhias, optou pela multinacional AngloGold Ashanti. Ele trocou Curitiba por Sabará (a 21 quilômetros de Belo Horizonte), onde atualmente trabalha em uma mina de ouro -um tipo de commodity na qual ele queria ter experiência. Ouro é o segundo minério mais importante para as exportações do Brasil, atrás – bem atrás- do ferro.
Solidão
“O único aspecto negativo [da carreira] é ter de ficar longe da família. Minha profissão exige que eu vá atrás do minério”, diz Beruski. Ele conta que vê os parentes a cada dois meses.
Beruski trabalha em uma mina subterrânea e precisa ter precauções ao descer -o solo apresenta superfície irregular e há pedras que podem cair, por exemplo.
Devido ao ruído, à temperatura e à vibração a que estão sujeitos os profissionais, todas as atividades de extração mineral têm grau 4 de risco, o mais alto da CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas).
Rogério José Guimarães Pinheiro, coordenador de segurança da mineradora Codelco, explica que há riscos químicos, especialmente por causa da poeira levantada nas minas. O grau de risco de uma atividade é classificado de acordo com o tempo de exposição a esses fatores.
Ciclos
Como todo recurso natural é finito, e a natureza desse setor, flutuante, o bom momento da mineração não deve durar para sempre.
O consultor Carlos Horádio Bertoni, 60, formado em geologia em 1974, diz ter testemunhado muitos altos e baixos na profissão. “Tratando-se de commodities, é natural que existam esses ciclos”, afirma.
Nos últimos seis meses, o preço do minério de ferro variou bastante. De um pico de US$ 180 por tonelada, caiu para US$ 110 e atualmente está na faixa de US$ 147.
É impossível prever com exatidão como o mercado estará em quatro anos, e quem entra na universidade em um bom momento pode graduar-se em fase de baixa.
Da turma de 20 formados na UnB (Universidade de Brasília), apenas seis ex-colegas de Bertoni ainda trabalham como geólogos -ele mesmo teve de morar fora do Brasil durante 12 anos. Entre 1980 e 1992, ele passou por Canadá, Guiana, Guiana Francesa e Suriname, porque o mercado nacional vivia um período muito ruim.
Fonte: Folha de São Paulo

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