sábado, 9 de fevereiro de 2013

Solidariedade e união ajudam alunos da UFSM a superar tragédia da Kiss


Integração entre alunos ameniza dor causada pelas mortes, diz psicóloga.
Para estudantes, tragédia trouxe mais solidariedade ao campus.

Felipe Truda Do G1 RS, em Santa Maria
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UFSM montou um centro para atender estudantes após a tragédia na boate Kiss (Foto: Felipe Truda/G1)UFSM montou um centro para atender estudantes após a tragédia na boate Kiss (Foto: Felipe Truda/G1)
“Enfrentamos juntos tudo isso e juntos vamos superar”. A faixa estendida em frente ao prédio da União Universitária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) mostra como a instituição lida com o trauma causado pelo incêndio na boate Kiss, na madrugada de 27 de janeiro, que matou 238 pessoas, 116 acadêmicos da universidade do Rio Grande do Sul.
Centro de Ciências Rurais foi o mais afetado pela tragédia. Festa na boate era promovida por faculdades ligadas ao centro (Foto: Felipe Truda/G1)Centro de Ciências Rurais foi o mais afetado pela
tragédia. Festa na boate era promovida por
faculdades da área (Foto: Felipe Truda/G1)
No campus da UFSM, os alunos do Centro de Ciências Rurais (CCR), onde estudava a maior parte das vítimas, têm fama de festeiros. Segundo a psicóloga Camila Schmitt Pires, que trabalha na universidade há três anos, eles têm facilidade de integração, e isso pode contribuir para amenizar a dor de estudantes e professores.
“Eles são sempre muito envolvidos com festas. Fazem confraternizações tanto no campus quanto fora”, conta ao G1 a psicóloga Camila Schmitt Pires, que trabalha há três anos na instituição e desde o recomeço das aulas atua no Centro de Acolhimento montado para atender alunos abatidos pela tragédia. Ela explica que a característica dos alunos do prédio 42 da universidade é importante para que eles retomem a rotina. “Há uma união muito grande entre eles, e isso faz com que eles superem juntos”, conta.
'É um baque', diz aluno
Vitor diz que clima mudou completamente no campus (Foto: Felipe Truda/G1)Vitor diz que clima mudou completamente no campus (Foto: Felipe Truda/G1)
Ao final da primeira semana de aula depois da tragédia, o clima é diferente. Os alunos, que costumavam confraternizar e divulgar festas, estão em sala de aula. Muitos dos que moram na Casa do Estudante estão recolhidos. São poucas as rodas de conversa, tão comuns em qualquer universidade.
“É um baque”, comenta o aluno de tecnologia em fabricação mecânica Vitor Vargas de Souza, de 25 anos, que teve dois amigos mortos no incêndio. “Em final de semestre sempre havia festas que os alunos organizavam e vinham promover, mobilizar o pessoal. O movimento diminuiu bastante”, comenta.
Casa do Estudante da UFSM ganhou faixa de luto (Foto: Felipe Truda/G1)Casa do Estudante da UFSM ganhou faixa de
luto (Foto: Felipe Truda/G1)
O que não quer dizer que os jovens não estão unidos. “Tenho visto mais solidariedade aqui”, diz o estudante de química Aliar Anacleto Jung, de 18 anos, que perdeu duas amigas e outras 14 pessoas conhecidas no incêndio.
Morador da Casa do Estudante, Jung conta que o clima nos três prédios que abrigam acadêmicos que moram no campus é de “família”, e elogia o trabalho dos psicólogos. “A qualquer hora sou muito bem atendido”, diz.
Professores mais flexíveis
Jung conta que o clima de solidariedade não se limita aos estudantes. Estudante de um curso onde há muita exigência, pela complexidade das disciplinas, ele diz ter se impressionado ao perceber que os professores têm se mostrado sensíveis à dor dos alunos.
“Em uma noite, me desesperei e chorei. Mandei um e-mail para minha professora, dizendo que não tinha como entregar o trabalho na data marcada e expliquei a situação. Ela me respondeu que eu poderia entregar uns dias depois tranquilamente”, contou.
O corpo docente da universidade recebeu pedidos do Centro de Acolhimento e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) para compreender que alguns alunos passam por uma situação difícil. “Alertamos para que sejam sensíveis e flexíveis. Cada turma e aluno terá necessidades diferentes. Alguns não têm esta necessidade, outros sim. Cabe ao professor avaliar as situações e adaptar as aulas”, explicou Camila.
Abalado, Jung contou com a compreensão de professores da UFSM (Foto: Felipe Truda/G1)Abalado, Jung contou com a compreensão de professores da UFSM (Foto: Felipe Truda/G1)
'Cuidamos um do outro', diz coordenador do DCE
A fraternidade que se instalou na universidade chegou ao Diretório Central dos Estudantes (DCE). O coordenador geral Alex Monaiar, de 23 anos, diz que a melhor forma de encarar a situação é estender a mão a quem está próximo. “Nos organizamos para cuidar um do outro”, diz.
Estudante de psicologia, ele ficou envolvido com o atendimento de familiares de vítimas desde o dia posterior à madrugada do acidente. Depois, consultou profissionais da Força Nacional do SUS que estavam na cidade para saber a melhor forma de auxiliar os estudantes.
Com eles, aprendeu que a melhor forma é promover a união entre os alunos. “O primeiro foco é estimular que as pessoas se encontrem. A sala de aula precisa ser espaço de encontro, não apenas de aprendizado do conteúdo. Reações como tristeza, culpa e vontade de ficar sozinho não são anormais nesta situação, e com esta rede as pessoas vão superar isto”, diz.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 238 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
(Veja o que já se sabe e as perguntas a responder)

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