Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
A paciência vem sendo a principal tática da Polícia Civil para investigar o caso do criminoso apelidado de maníaco da moto.
Também pudera. Após 11 ataques sexuais a mulheres, sendo sete no Grande
ABC e o restante na Capital, a fama do estuprador cresceu e fez as
pessoas mudarem a rotina na mesma proporção em que os boatos se espalham
pela região.
"É um fenômeno", admitiu Rafael Rabinovici,
delegado seccional de São Bernardo, onde aconteceram três ataques do
maníaco. No Jardim Independência, palco dos dois últimos, a audácia do
bandido em invadir a residência de uma cabeleireira aumentou as
denúncias e chamadas à polícia. Apesar dos ataques ocorrerem desde
outubro, moradores contam que era comum vê-lo roubando pelo bairro,
antes. E que constantemente andava pelas ruas fazendo ameaças e
escolhendo suas futuras vítimas.
A polícia já tem alguns dados concretos do
maníaco, como suas características físicas: pardo, alto, forte e com
cicatrizes no rosto. Sabe que ele utiliza duas motos, ambas do modelo
Yamaha Fazer, uma preta e outra vermelha, além de carregar um revólver
calibre 38. Mesmo com o retrato falado, confusões ocorreram. Na Capital,
um motoqueiro parou para urinar em um muro e quase foi linchado. Em
Santo André, cidade sem casos registrados do criminoso, um pedreiro foi
flagrado em tentativa de estupro e um taxista foi reconhecido por seis
vítimas. Os dois foram anunciados como sendo o bandido famoso, apesar
das diferenças.
"Tem de continuar acreditando na polícia.
Estamos empenhados, checando cada informação que recebemos. Por isso o
reconhecimento precisa ser muito bem feito", disse Rabinovici.
Apavorada, a população se vê como refém do
maníaco. Na internet, correntes de e-mail propagam informações falsas.
Em um deles, um morador de São Caetano diz que a cidade teve três casos.
Na verdade foram dois, mesmo número de Diadema. Relatos assustadores de
mulheres completamente brutalizadas e indicações de ruas onde o
criminoso costuma aparecer também surgem constantemente aos policiais.
"Essas evidências de crimes sexuais provocam
reação pública extrema", afirmou o psiquiatra Danilo Baltieri,
especialista em transtornos sexuais da Faculdade de Medicina do ABC.
Para ele, é natural que a população esteja
com medo, tranque as portas durante o dia e evite sair às ruas à noite,
além de outras medidas, como buscar as filhas adolescentes na escola e
demonstrar receio de motoqueiros. "Mas o medo, para ele, é excitante.
Ele é extremamente vaidoso. Por isso precisa ser contido. Um agressor em
série tem alto nível de impulsão sexual. Não respeita normas afetivas",
completou Baltieri. "Isso não o torna livre de transtornos psíquicos.
Precisa de tratamento."
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