quarta-feira, 27 de julho de 2011

Histórico de violência e impunidade do Pará

 Fonte O Liberal Edição de 01/01/2005  

O número de crimes que chocaram a opinião pública em 2005 assusta até os próprios policiais, acostumados a conviver diariamente com a violência. Dados da Polícia Civil registram o crescimento de crimes violentos em todos os tempos, no Pará. O ano começou e terminou abalando a população com cenas até então raras no Estado e que apenas aumentam o que os especialistas definem como “sensação de insegurança”. De fato, basta uma saída às ruas para verificar que esta é, realmente, a sensação mais características entre as pessoas, neste final de ano. As pessoas reclamam constantemente da falta de policiamento, mas há também pessoas que falam sa “audácia” e “modernização” dos métodos utilizados pelos criminosos em suas investidas.

A “vulnerabilidade” com que vivemos é refletida na distância quase insignificante que separa vítimas e criminosos, como bem se verificou em casos onde locais, até então seguros, como o próprio quintal de casa, viram cenário de crimes bárbaros. O medo toma proporções ainda maiores quando verifica-se que já não há mais critérios para distinguir quem, quando e onde alguém vai ser mais uma vítima da violência.

Polícia que mata - O cronograma de crimes bárbaros, no Pará, começou no dia 10 de janeiro quando, numa perseguição cinematográfica pela avenida João Paulo II (antiga Primeira de Dezembro), o produtor de eventos Carlos Gustavo Oliveira Maia Russo, de 27 anos, foi assassinado logo depois de virar refém do falso policial militar Lucivaldo Cunha, que acabara de realizar um assalto e obrigou a vítima a levá-lo em seu carro, o Gol de placas JTA-6982. Ambos foram mortos por policiais militares da 10ª Zona de Policiamento (Zpol), por volta das 16h, quando dezenas de pessoas passam pela avenida. Os policiais envolvidos no crime chegaram a ser presos, mas alguns foram soltos e, até agora, ninguém foi efetivamente condenado pela Justiça.

Um mês depois foi a vez da comoção tomar conta não somente de Belém, mas de todo o Estado por ocasião do assassinato da freira norte-americana Dorothy Mae Stang, de 73 anos, morta a tiros no município de Anapu, na região sul do Estado. A vítima trabalhava na região há mais de 20 anos e era a idealizadora do Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) voltado para trabalhadores rurais.

Os apontados pelo crime são o pistoleiro Rayfran das Neves, o “Fogoió”, condenado a 27 anos de prisão; seu comparsa Clodoaldo Batista, o “Eduardo”, condenado a 17 anos de reclusão; além dos fazendeiros Amair Feijoli, o “Tato”; Vitalmiro Bastos de Moura, o “Bida”; e Regivaldo Galvão, o “Taradão”. Estes três últimos ainda aguardam julgamento, mas permanecem presos no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), na Região Metropolitana de Belém.

Em março, as atenções voltaram-se novamente para Belém quando, num intervalo menor que 24 horas, dois assaltos com reféns mostravam a audácia de quem vive do crime. Num dos casos mais sangrentos, três assaltantes foram mortos durante uma tentativa de assalto à Agência dos Correios de São Brás pelo segurança Fernando Costa Soares.

O único sobrevivente do bando conseguiu fugir e invadiu uma residência na passagem Santo Antônio, no bairro de São Brás. Ele tomou como refém José Nazareno da Silva que ficou sob a mira de um revólver calibre 38 por mais de três horas. As negociações, conduzidas pelo então delegado da Terra Firme, Heitor Pinto, foram tensas, mas, assim que a imprensa chegou, o assaltante libertou o refém e acabou se entregando aos policiais.

Em abril foi a vez dos policiais militares lamentarem a morte de um de seus mais ilustres e respeitados oficiais. A brilhante carreira do coronel Hercílio Amarantes - que também era diretor de patrimônio do Clube do Remo e um apaixonado por futebol - foi brutalmente interrompida quando dois adolescentes que tentaram lhe assaltar em frente ao Mercado de São Brás, onde a vítima havia parado para falar com duas conhecidas. O principal acusado foi preso uma hora e meia depois do crime, na avenida Cipriano Santos, onde também se desfez da arma do crime.

Em seu depoimento, o menor disse que “ficou nervoso ao perceber que Amarantes fizera um movimento brusco, como que para pegar um arma”. O enterro, assim como o velório, contou com a presença de centenas de pessoas dos mais diferentes meios sociais de Belém.

Também no interior, a ação ousada dos marginais continuava chamando a atenção do poder público. Em junho, o juiz Waltercy Alves Gonçalves, titular da Comarca de Dom Elizeu, no nordeste do Estado, foi vítima de um atentado. O magistrado estava em frente sua casa quando foi atingido por um tiro nas costas, disparado, segundo testemunhas, por um homem encapuzado. O juiz culpou o  prefeito de Dom Elizeu, na ocasião, Jefferson Deprá (PTB), hoje vereador e presidente da câmara municipal.

Waltercy Alves Gonçalves foi atendido inicialmente no Hospital de Clínicas do município e, em seguida, transferido para um hospital particular, em Belém. Ainda na ocasião, o magistrado afirmou que a ação criminosa não evitaria seu retorno à comarca do município - coisa que aconteceu assim que o juiz se recuperou do ferimento.
Crimes contra as crianças abalam, comovem e revoltam a população
Menores de idade também foram alvos das atrocidades que comoveram o paraense. Três dos mais brutais abusos contra esse tipo de vítima aconteceram em setembro. Um deles, registrado no bairro do Icuí-Guajará, mostra a malícia humana utilizada sem qualquer escrúpulo. A pequena Jéssica Progênio de Lima, de apenas 8 anos, foi encontrada morta depois de ser estuprada por um homem que a atraiu para a mata oferecendo-lhe de bombons. Segunda uma testemunha ocular, a menina brincava com outras colegas quando foi chamada pelo nome por um homem que parecia conhecê-la. O principal acusado, identificado na ocasião apenas por “Japonezinho”, foi preso dois dias depois de encontrado o corpo da vítima.

Ainda no mês de setembro, a morte da pequena Taynifin Carolina, de 5 anos, provocou uma verdadeira revolta popular em Goianésia do Pará, no nordeste do Estado. Prédios públicos e veículos da prefeitura foram destruídos numa manifestação que precisou da intervenção de forças policiais e até mesmo do Exército para ser controlada. Os acusados identificados como  ‘Zé Negão’ e ‘Carequinha’ confessaram e detalharam como mataram e estupraram a pequena Taynifin Carolina. A Polícia chegou à elucidação do crime depois que os restos mortais da menina foram encontrados numa estrada vicinal, oito dias depois do desaparecimento.

O caso mais surpreendente e chocante, no entanto, foi o da estudante Bruna Leite Sena, cujo corpo foi econtrado dentro de uma saca de trigo, numa lixeira de um supermercado, no bairro de São Brás. O autor foi o instrutor de informática Marcelo Gomes Lutier, que continua preso à espera de julgamento. A morte de Bruna comoveu os moradores do distrito de Icoaraci onde a menina residia com os pais e a avó.

Os dados do Inquérito policial mostram que Bruna foi seduzida por Marcelo que, de início, tentava atribuir a autoria do crime a um susposto amigo, de Brasília. Os laudos do Instituto Médico Legal (IML) comprovaram que Bruna foi estuprada antes de morrer. Por ocasião desses três crimes, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seção Pará, encaminhou um relatório minucioso à presidência da entidade exigindo providências do poder público.

E quando tudo indicava um arrefecimento da violência, o Pará fica chocado com a morte da pequena Marielma de Jesus da Silva Sampaio, de 11 anos, trazida do município de Moju pelo casal Roberta Rolim e Ronivaldo Furtado com a promessa de receber estudos e uma vida melhor. Até mesmo os peritos do Instituto Médico Legal (IML) ficaram chocados com a violência praticada contra a garota. O casal de acusados continua preso preventivamente à espera de julgamento. Marielma trabalhava como empregada doméstica na casa de Roberta e Ronivaldo há quarto meses. O crime não só abalou como criou uma sensação de revolta na opinião pública.
Adolescente mata porque ficou nervoso. Professora é morta pelo marido.
O mês de dezembro comprovou que ano termina como começou: violento. Ao tentar sacar um dinheiro para comemorar a aprovação do filho no concurso vestibular, o médico Paulo Roberto Nogueira Barroso, de 61 anos, é assassinado por um adolescente de 18 anos que simplesmente alegou “nervosismo” como motivo para efetuar o disparo contra a cabeça de sua vítima.

O crime chocou alunos e professores da Universidade do Estado do Pará (Uepa), onde Paulo Barroso lecionava, além de centenas de pessoas, entre parentes, amigos e curiosos, que compareceram ao velório do médico, na própria Uepa.

A também professora Núbia Carmen Conte Haick, de 43 anos, entrou para as estatísticas macabras de 2005 depois de ter sido encontrada morta em meio a um ritual satânico, na estrada que dá acesso à Ceasa, no dia 6 de dezembro. A morte da professora provocou comoção entre os alunos e professores da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme, cuja direção decretou luto oficial de três dias por ocasião do crime. O principal acusado é o ex-marido da vítima, Ismael Macambira Haick, que está preso aguardando julgamento.

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