Americano admite ser falsa 'blogueira lésbica presa na Síria'
"Protesto na Síria (AP)"
Um americano assumiu ser o autor por trás dos textos de uma falsa blogueira síria que escrevia textos sobre a revolta popular em seu país e sobre como seria a vida de uma lésbica vivendo sob o repressivo regime sírio.
Amina Abdallah Arraf al-Omari, que publicava seus textos em inglês no blog A Gay Girl in Damascus ('Uma Menina Gay em Damasco', em tradução livre), ganhou fama ao falar abertamente de sua sexualidade e criticar o presidente sírio, Bashar Al-Assad.
Supostamente uma cidadã de 25 anos e dupla cidadania - americana e síria -, Amina começou a publicar seus posts em fevereiro.
Um dos mais recentes sugeriu que ela havia sido detida por forças de segurança sírias em Damasco, levando os seguidores de sua página no Facebook a pedir sua libertação, e fazendo da hashtag #FreeAmina uma das mais populares do Twitter.
Entretanto, depois que jornalistas começaram a questionar a existência da blogueira, o americano Tom MacMaster, estudante na Escócia, admitiu ser a pessoa em carne e osso por trás da iniciativa.
A notícia gerou indignação entre ativistas no Oriente Médio, que acusaram MacMaster de leviandade e de prejudicar a sua causa.
'Se um dia eu for sequestrado pelo meu governo, muitos leitores não vão dar a menor bola, porque pode ser que eu seja outra Amina', reclamou um post de um blog no Líbano.
Daniel Nassar, editor do blog Gay Middle East, disse que o episódio dificulta a vida dos ativistas GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros).
'Por sua causa, senhor MacMaster, um monte de ativistas GLBT de verdade estão expostos às autoridades na Síria', escreveu.
'Você roubou a minha voz, senhor MacMaster, e as vozes de muita gente que eu conheço.'
BangPound, um blogueiro que investigou a história, escreveu no Twitter que o episódio 'não teve nenhum lado positivo'.
'(O caso) não chamou atenção para a Síria. Chamou atenção para uma fantasia.'
Voz online
Os levantes árabes que começaram no início deste ano têm sido alimentados pela difusão de blogs e mídias sociais, como os sites Twitter e Facebook. O de Amina rapidamente começou a ser acompanhado por jornalistas e ativistas em todo o mundo.
A suposta blogueira síria chegou a dar entrevistas à imprensa. Uma reportagem da Associated Press descreveu os relatos como condizentes com os de uma mulher em meio a levantes violentos na Síria.
Na segunda-feira, um texto supostamente escrito por um primo de Amina afirmava que ela havia sido presa por homens armados supostamente ligados ao partido do presidente Assad, Baath.
'Esperamos que ela esteja simplesmente detida e nada mais grave tenha acontecido com ela', disse o falso primo.
A notícia foi amplamente divulgada por meios de comunicação que incluíram a BBC. Blogueiros e ativistas em todo o mundo lançaram uma campanha pedindo a sua libertação.
Quando as fotos de Amina apareceram, entretanto, foram imediatamente reclamadas por uma profissional de relações públicas que mora em Londres, Jelena Lecic.
Ela disse que as fotos, que mostram uma jovem com uma pinta em cima do olho esquerdo, foram retiradas de sua página do Facebook.
Mais tarde, a Embaixada dos EUA disse que não tinha registros de uma cidadão de nacionalidade síria-americana que correspondesse à identidade de Amina.
Foi então que os jornalistas se deram conta de que, embora tivesse uma vida online ativa e tivesse se correspondido com diversas pessoas via e-mail, Amina não tinha dado a cara pessoalmente a ninguém.
No domingo, o blog trouxe um pedido de desculpas de Tom MacMaster, um ativista americano pró-Oriente Médio de 40 anos estudando na Universidade de Edimburgo, na Escócia. Ele se disse 'o único autor de todos os posts' no site.
'Se a voz narrativa é ficcional, os fatos neste blog são reais e não são enganosos quanto à situação no local', escreveu MacMaster.
'Não creio que tenha feito mal a ninguém. Acho que criei uma importante voz para temas com os quais me identifico.'
BBC Brasil